Dia-a-dia no Facebook

Fui só eu que reparei na entrevista que o Primeiro-Ministro deu à SIC, que ele diz “ucasião” e “ubrigação”? Escandaloso. De resto, igualzinho ao de sempre. Infelizmente demorei muito tempo a recuperar-me da entrevista de Passos Coelho e não escrevi nada aqui desde então, pelo que desde já peço desculpa a toda a gente que acompanha o blog e reconhece o meu grande talento para a comédia e para a escrita:  desculpa mãe. 

Posto isto, hoje venho trazer à atenção três coisas com as quais toda agente esbarra no Facebook no mínimo todas as semanas, para não dizer todos os dias, e às quais já está toda a gente tão habituada que já nem questiona a forma como são apresentadas. Vamos então questionar. Vai ser como a entrevista ao Passos Coelho, a diferença é que aqui, no fim vão ver que é tudo verdade .

A primeira coisa é a seguinte: não há nenhum nome próprio que tenha um mau significado. Nenhum! Toda a gente tem uma pequena obsessão por descobrir o significado do seu nome e no fim é sempre sinónimo de uma personalidade muito jovem, de alguém amigo do seu amigo, trabalhador, nobre e astuto. Todos os dias vejo alguém a partilhar o significado do seu nome no Facebook, e coincide sempre com personalidades espetaculares. Já agora, quem é que dá o significado aos nomes? Será que havia um indivíduo cuja profissão seria “criador de nomes” e que inventava os nomes que hoje conhecemos atribuindo-lhes uma descrição? Se havia, esse senhor fez um óptimo trabalho de escrita criativa, na medida em que conseguiu dar a milhares de nomes o mesmo significado, mas por outras palavras. Faz lembrar aqueles textos do horóscopo: “Um dia de natureza expansiva e criativa. Momento de estarmos mais conectados com nossos sentimentos e força interior. Cuidado com o orgulho, o rancor e a necessidade de controlo. Tenha empatia.”. Olha, grande ajuda. Fico admirado de não me lembrarem para não parar de respirar.

Segunda coisa: todas as semanas aparece uma página a dizer que encontraram os restos mortais da Maddie McCann no Algarve. Vai-se a ver e é sempre um site com um nome esquisito e temos que pôr um like para poder ler, e afinal não é verdade. E na verdade já ninguém acredita que encontrem alguma coisa, é só a curiosidade a falar mais alto. Porque se fosse verdade, fazendo as contas tendo em conta que um esqueleto tem 206 ossos, se encontrassem um osso por semana, tinham demorado quase 4 anos a juntar todos. E assim, já há cerca de outros quatro anos que essa notícia não faria sentido. Vêem, é só juntar as peças. Da história…as peças da história. Já agora só um aparte: já repararam que a expressão restos mortais não faz sentido? Os restos que se encontram não são mortais, são inofensivos. Deviam-se chamar só restos. Já alguma comida que sobra e fica num tupperware durante semanas no frigorífico esquecida, essa sim devia ser chamada de restos mortais, porque duvido que alguém sobreviva a alguns fungos que eu já vi em determinados bifes. Esperem lá, eu sei que a Maddie era bifa mas isto não era para efeitos de trocadilho.

Por último, queria apenas referir que quando alguém faz anos e recebe aquela avalanche de parabéns no Facebook, normalmente no fim do dia ou no dia a seguir escreve um discurso de agradecimento daqueles de quem ganha um Oscar. E parece mesmo, porque há sempre um agradecimento à família e amigos, àqueles que trabalham com a pessoa e a todas as pessoas que gostam dela e que gastaram uns minutos a desejar os parabéns. Nos Oscares o agradecimento é igual, até na parte em que há sempre algum vencedor que critica a indústria por alguma razão. No Facebook também há sempre alguém que critica, por exemplo, o facto de a maioria das pessoas só darem os parabéns porque o Facebook diz a data de aniversário. É igual, eu às vezes nem sei se estou a ler o meu feed de notícias ou o feed do Leonardo DiCaprio. Depois percebo que é o meu pela razão mais óbvia: o DiCaprio nunca ganhou um Oscar. Mas era merecido ganhar que ele é um bom actor. Eu no lugar dele já não dava likes a ninguém e só não bloqueava uma data de amigos porque não é socialmente aceitável bloquear um amigo do Facebook. Nem pessoas que se conheça mesmo.

1 comments

  1. […] Nesse tal artigo comparei os sempre bajuladores significados de nomes com as previsões do horóscopo, que são sempre uma espécie de conselho para a vida, mas baseados no senso comum. É uma espécie de “Seja boa pessoa – Para totós”, mas se for dito que é místico e foram os astros que disseram, as pessoas acreditam. Se for um amigo a dar um conselho, é só um gajo que acha que é mais esperto que os outros. É aqui que está o âmago da questão. E um aparte só para dizer que se repararem, só as questões é que têm âmagos. Ninguém diz “vivo mesmo no âmago da cidade” ou “tira o caroço do âmago do pêssego”. Voltando ao assunto: As pessoas acreditam em conselhos dados (supostamente) por rochas. Os planetas são calhaus muito grandes que andam à roda e as pessoas acreditam nos conselhos deles. Só por isso vê-se logo que é tudo uma farsa. Se os conselhos dos astros fossem bons, já tinham ido mais longe em vez de andarem à roda estes anos todos. Vê-se que são astros muito pobrezinhos de espírito e que se limitam àquela vidinha de andar à volta do Sol e mais nada. Planetas como Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno nem sequer de pedra são, são só mistura de gases. Os gases predominantes nesse planetas são o hidrogénio, o metano e o hélio. Ora, um facto curioso é que também de hidrogénio e metano são constituídas os nossos peidos. Ou seja, há muito boa gente a acreditar que a sua vida é influenciada pelo alinhamento de pedras com bufas. São de facto super-pedras e super-bufas, derivado do seu tamanho e da sua capacidade de andarem pelo espaço à roda e à volta do Sol. No entanto, acho que era preciso bem mais que isso para impressionar. Além disso até eu consigo prever como é que pedras e bufas podem afectar directamente a minha vida. Uma vez mandei uma pedra a rodar para acertar numa lata, e acabei por falhar a lata e acertar num carro em andamento. Foi fácil prever que para beneficiar a continuidade da minha vida, eu devia correr muito e para longe. Fi-lo e beneficiou. Também já mandei bufas muito grandes e a rodar, e era de prever que as outras pessoas no elevador iam ficar incomodadas. Para beneficiar a minha vida, era agir como inocente e culpar o Universo. Ou os astros mais especificamente. […]

    Gostar

Partilhar o que vai no fundo da alma